Coletivo Marxista do PT
O golpe de Cunha, Temer e do PSDB derrubará o governo Dilma. O PT vai sumir do cenário político, e no poder, Temer irá aplicar a mesma política neoliberal do governo Dilma, só que com mais eficiência. PSOL, PSTU, PCB e outras organizações de esquerda vão liderar a resistência popular, e o resultado disso são três cenários possíveis: No pior deles, Aécio vence as eleições de 2018, mas o PSOL elege grande bancada se tornando o maior partido de oposição, em outro cenário, Luciana Genro é eleita presidente da República, e em um terceiro cenário, ainda existe a possibilidade da crise se agudizar a tal ponto de varrer as instituições burguesas, abrindo assim caminho para a construção de um governo revolucionário.
A situação a cima descrita seria a saída mais otimista para a atual crise que vivemos, e é com base nesse otimismo que os chamados esquerdistas: parte do PSOL, PSTU, PCB e outras organizações, se posicionam sobre o processo de impeachment. Alguns se posicionam claramente em favor da deposição de Dilma, outros ficam “firmemente em cima do muro” e outros ainda fazem apenas uma oposição envergonhada a ação liderada por Cunha, dizendo-se contra o impeachment mas também contra qualquer mobilização nesse sentido. Ainda que se possa idealizar essa saída triunfal para a crise, não é isso que a aconteceu antes na história em situações semelhantes. Ha que se evidenciar também o cenário otimista para os governistas, onde Dilma se mantêm no poder, termina o seu mandato com uma recuperação mínima da situação econômica, Lula volta em 2018 nos braços do povo e tudo continua mais ou menos do jeito que está hoje. Embora pareça mais factível do que o cenário esquerdista, a utopia governista também parece cada vez mais improvável, e na verdade, nem muito desejável, então nem falaremos mais sobre isso nesse momento.
O que a história tem demonstrado é que desde o início do século XX, com exceção das Ditaduras, nos países minimamente industrializados e formalmente democráticos, a burguesia não necessita de um único partido de direita que se eternize no poder. Na verdade, os partidos reformistas, quando devidamente cooptados pela burguesia, as vezes ficam muito mais tempo no poder do que os partidos formalmente de direita, graças ao estabelecimento de um moderno bonapartismo(termo empregado para designar um governo que se eleva a cima da luta de classes, nesse caso seria um governo aparentemente assim só que na verdade, controlado pela burguesia ou por uma fração dela).Tudo que a burguesia precisa dos partidos de direita, é que por um determinado momento, possam reunir o capital político necessário para aplicar o programa completo de ataques aos direitos dos trabalhadores, depois disso, a eleição de um partido reformista de esquerda, ou talvez até de um partido de centro-direita com um discurso “social” embora não seja o desejável, talvez seja o necessário para aliviar a pressão da resistência das organizações de trabalhadores. Trazendo isso para o Brasil, um governo Temer pelo tempo que restaria do mandato de Dilma, pode se tornar o mais desejável para a burguesia, adicionado a um eventual governo Aécio pós-2018 para consolidar o que eles tem chamado de “reformas necessárias” já seja o tempo suficiente. Mais do que isso, entrariam certamente em desgaste e a tendência seria uma nova ascensão do reformismo, talvez agora com outra cor, ao invés do vermelho do PT e de Lula, quem sabe o verde de Marina e sua Rede( ou ainda quem sabe, os dois juntos)
Mas esse revezamento entre o pior e o menos pior é inevitável? Para os reformistas sim, mas para aqueles que acreditam e conhecem o poder revolucionário da classe trabalhadora, evidentemente que não. Porém essa situação só vai mudar quando a classe trabalhadora tiver uma direção revolucionária de massas capaz de suplantar tanto a direita quanto a esquerda pelega, esse é o caminho mais árduo e longo mas é o único. Ao apoiar o impeachment ou ser indiferente a ele, o esquerdismo tenta um “truque esperto”, uma forma de “cortar o caminho da história”, usando a direita(PMDB/PSDB) para derrubar o PT e depois “derrubá-los da prancha e surfar nessa onda” como disse o líder do MTST Guilherme Boulos. Uma posição anarquista, vinda daqueles que reivindicam o marxismo. Claro que pesam os argumentos de que: a) supostamente a parte mais consciente da classe trabalhadora, em sua maioria, estaria dividida entre o apoio e a indiferença ao impeachment, portanto, caso se concretize a manobra de Cunha não será uma derrota dos trabalhadores, mas “apenas” do Partido dos Trabalhadores, ou ainda que: b) a crise atual, pelo seu tamanho, por si só, inviabilizara qualquer plano de médio e longo prazo da burguesia pós-impeachment. Se qualquer um dos dois argumentos fossem válidos, o esquerdismo então precisaria declarar que perdeu a chance de estar a frente do “Fora Dilma” desde as jornadas de junho de 2013, evidentemente, que não é o caso.
Hoje os dois cenários mais prováveis são:
1) Dilma é deposta. A resistência ao golpe se consolida como frente de oposição parlamentar(PT, PC do B, PSOL e talvez PDT e Rede) e popular ao governo Temer, mas será uma batalha dura. Se puder conter a vaidade dos lideres tucanos, o novo presidente deve ter em torno de si uma ampla unidade da direita, talvez como não se vê desde o governo Itamar, com apoio da parte da população que insatisfeita com o governo Dilma se deixa influenciar por movimentos reacionários, do congresso, do judiciário, da mídia, além claro do grande capital nacional e internacional, as próprias forças armadas, se não se mobilizam pela deposição de Dilma não significa que não terão uma postura mais ativa na defesa de um governo Temer, ainda mais agora com a promulgação( pelas mãos de Dilma) da chamada lei antiterrorismo. Apesar das dificuldades, a resistência ao golpe, transformada em resistência popular a Temer, se tomada pelos reformistas, deve apresentar uma alternativa reformista.
2) Dilma gasta o pouco capital politico que lhe resta para manter-se no cargo. O mais provável é que venha um segundo estelionato, com a ampliação do espaço dos aliados de direita “leais” dentro do governo, além claro do aprofundamento dos ataques aos direitos e conquistas do povo. Diante disso, a classe trabalhadora, fortalecida por impor uma derrota aos setores mais reacionários da burguesia, poderá converter a resistência ao golpe em resistência ao próprio reformismo,,desde que no seio dessa resistência existam força que apontem nesse caminho.
Sempre é preciso relembrar que o PT e a politica de colaboração de classes da sua direção, são os principais responsáveis pelo cenário que ai está, não pela crise econômica em si( como diz a imprensa), mas pela sua fragilidade politica em meio a essa crise. É como aquele treinador que dirige um time que briga contra o rebaixamento, tem aqueles treinadores que mesmo nessa situação difícil conseguem unificar torcida e jogadores em torno de seu trabalho, e tem aquele treinador que tanto a torcida quanto os jogadores querem ver longe. Infelizmente o PT se enquadra no segundo exemplo.
E diante disso, é bom ponderar que de fato, chamar os jovens combativos que só conhecem o PT governo, ou mesmo aqueles trabalhadores mais velhos, que estão profundamente decepcionados com os rumos do partido, a defender o governo Dilma contra o impeachment é um esforço hercúlio. Entretanto, a história mostra que, o caminho do revolucionário, ainda que guiado por sentimentos doces, geralmente, é o mais amargo. Somente estando lado a lado dos trabalhadores, não só nas suas lutas específicas, mas também nas suas lutas de massa, nas vitórias E nas derrotas e aprendizados, é que os comunistas poderão ajudar a forjar uma direção revolucionário de massas, capaz de apontar o caminho da verdadeira mudança. Esse é o rumo a ser tomado, pois, a menos que as guerras, os desastres ambientais e as pandemias que insistem em sair das distopias do cinema para a realidade, nos levem de vez para a barbárie, em 10 anos, o que sobrar dessas organizações esquerdistas estarão a repetir, o mesmo discurso contra o reformismo que eles próprios ajudam a (pro)criar.
Abaixo o Impeachment! Fora Cunha!